Um dos primeiros trabalhos que assumi, aos vinte e dois anos, gurizote, como dizia meu pai, foi o desafio de criar e montar uma joalheria.
Ficava bem no centro da cidade, num ponto bom, na esquina da André de Barros com a Dr. Murici, e bastante popular, a ponto do local ter sido antes, uma pastelaria.
O espaço era pequeno e minha grande preocupação foi colocar tudo o que o cliente queria que fosse colocado lá dentro, e que não era pouco: atendimento em pé, atendimento sentado, caixa, vitrine externa, vitrines internas, um cantinho pro relojoeiro e um escritório em cima, acessado por uma estreita escada caracol.
E não é que consegui? Depois de aprovados, projeto e orçamentos, deu-se início à obra. O detalhe é que o local não tinha sido uma pastelaria num passado remoto. Tinha havido ali uma pastelaria, não fazia muito tempo.
O cheiro de gordura no ar era algo concreto. Antes da obra propriamente dita, seria necessário muita água e sabão. Antes disso, porém, foi preciso, com espátulas e boa vontade, raspar de baixo pra cima, camadas e camadas de anos de sujeira acumulada nas paredes, colunas, portas e tetos, que iam saindo em forma de biju.
Somente depois dessa limpeza, que durou uns quatro dias, o local ficou apto a receber alguma reforma.
A joalheria ficou um brinco, mas há muito tempo não tá mais lá. Passando um dia pelo local, me lembrei dessa história mal cheirosa e pra minha tristeza, reparei que o endereço abrigava novamente um boteco, tipo aquela pastelaria. C’est La Vie…
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